#16 Tudo o que eu quero fazer é ilegal
Você é esquisita demais pra alguém te amar - e te recomendando filmes de péssimo gosto
Caí no conto do bad boy e da virjona
Passei praticamente o mês inteiro de setembro em casa, não por férias, mas por motivos de saúde. Então, resolvi não me cobrar demais a seguir minha rotina estilo Manu Cit e me dei um tempo para sentar a bunda no sofá. Além de voltar a ler fanfics em quantidades ridículas, assisti a tantos filmes quanto meus olhos aguentaram em um único dia. Embora eu não seja fã de romances – na verdade, meio que os detesto – assisti a dois ótimos recentemente. O primeiro foi o coreano Love and Leashes, e o segundo, o americano Dinner in America. Ambos foram incrivelmente divertidos e nada apelativos, o que provavelmente foi o que mais me surpreendeu, a ponto de uma lágrima safada se formar no canto do meu olho.
O filme acompanha Simon, um jovem rebelde e vocalista de uma banda de punk rock underground, e Patty, uma mulher excêntrica e socialmente excluída que vive uma vida rotineira e opressiva. O destino dos dois se cruza quando Simon, em fuga da polícia, se esconde na casa de Patty. Ela, que já admirava a banda de Simon sem saber quem ele realmente era, vê nele uma chance de conexão e liberdade.
O contraste entre os dois personagens é evidente desde o início: Simon é agressivo, desbocado e constantemente desafiando as convenções sociais, enquanto Patty é retraída, ingênua e insegura. No entanto, eles compartilham um sentimento de deslocamento e inadequação em relação ao mundo ao seu redor, o que acaba criando uma relação inesperada.
Os dois filmes giravam em torno de um tema central: "Será que existe amor para mim, mesmo eu sendo um esquisito?" Esse tipo de questionamento me pega bastante. Se, como eu, você não tem um diagnóstico formal, mas sente que algo não está bem na sua cabeça, essa dúvida pode ser um inferno. Apesar de eu ter consciência de que o amor romântico muitas vezes é idealizado como uma forma de sacrifício feminino, no fim das contas, ainda não me desconstruí o suficiente para deixar de desejar vivenciar esse tipo de amor. E nem pretendo. Estou bem com isso, obrigada.
Entendo que todos, em algum momento da vida, se sentiram deslocados, mas há uma linha tênue entre ser "estranho" de maneira socialmente aceitável e ser tão excêntrico que isso pode levar ao bullying, à exclusão, ao assédio moral, ou até mesmo à negação de direitos. Não estou falando de alguém excêntrico que chama "bolacha" de "biscoito" em São Paulo, mas de pessoas que podem ser psico ou neurodivergentes, ou até ter traços de personalidade muito únicos, e que por isso, enfrentam uma trajetória complicada quando se trata de amor e relacionamentos num geral.
O mundo não foi feito para nós, e tentar se encaixar nas expectativas românticas tradicionais pode ser exaustivo e frustrante. Há uma espera cultural do sacrifício feminino, onde a mulher, para ser amada, precisa ceder, ajustar-se, diluir suas peculiaridades em prol de um ideal romântico. Isso é ainda mais cruel para mulheres genuinamente esquisitinhas, porque, para nós, o amor não é apenas sobre conexão; é sobre se sentir segura para existir por completo dentro de uma relação, sem medo de ser rotulada como "complicada demais" ou "difícil de lidar".
O verdadeiro desafio não está em encontrar o amor, mas sim em encontrar um amor que não se assuste com a complexidade, que não tente te podar e que não transforme suas peculiaridades em projetos de reforma dos Irmãos à Obra.
Quando somos amadas em toda a nossa complexidade, o amor deixa de ser um fardo e se torna um lugar de pertencimento. Sinceramente, não queria que esse texto ficasse tão militudo e nesse tom sério, mas fiquei mexida com o filme, e quis compartilhar esse pensamento com vocês. Tive muitos relacionamentos complicados, e por conta da falta de compreensão das minhas questões, fui negligenciada por pessoas que diziam me amar todos os dias, e hoje, me sinto feliz em um relacionamento com outra pessoa que é tão esquisitinha quanto eu. Ame ser esquisita, ame outros esquisitos e sejam esquisitos juntos. E também assista Dinner in America, esse filme sem querer acabou curando feridas que eu nem lembrava que tinha.
Filmes horríveis, mas que eu amo
Uma coisa sobre esta que vos escreve: eu não estou nem aí para a qualidade dos filmes que assisto. Achei a capa bonita? É dentro. Gosto de alguém do elenco? É dentro. Só pela sinopse eu sei que vai ser uma bobagem, mas que vai me entreter por aquelas 1hrs e 40mins? Pois bote tudo dentro. Eu amo ver filmes, e isso é completamente culpa da minha família, que me colocava na frente da TV durante horas e horas desde muito pequena, e foi assim que acumulei quantidades ridículas de filmes assistidos nesses meus 26 anos.
Eu não me descreveria como cinéfila. Pesquisei no Google e vi que uma pessoa cinéfila é alguém que aprecia o cinema como forma de arte ou lazer, o que talvez me enquadrasse nesse rótulo, que acho paia demais. Você chegaria em alguém e diria que é cinéfilo? Eu não. Eu nasci e cresci na Zona Norte de São Paulo, tenho uma reputação a zelar. Pra mim, um cinéfilo de verdade se preocuparia com a qualidade dos filmes que assiste, além de conseguir tecer longas críticas sobre o que acabou de ver. Sinceramente, eu só me importo em me divertir e pensar numa piadinha boba de uma linha pra postar no meu Letterboxd, e pra mim, isso é o suficiente.
Bom, dito isso, aqui vão algumas recomendações de filmes com notas terríveis por parte de usuários e críticos, mas que eu não só amo, como também recomendo para que você tenha o PRAZER de se divertir assistindo essas pataquadas:
Meu professor, minha obsessão
Esse daqui é simplesmente terrível, e eu já assisti umas três vezes. Conta a história de um professor de colegial que, após se mudar para uma nova cidade, acaba se envolvendo com a filha da mulher com quem ele está saindo. Primeiro, que um professor se envolvendo com uma aluna por si só já é de se morder de raiva; segundo, que os diálogos e as situações são tão cômicas e caricatas que é impossível você não dar um pulo no sofá de tanta indignação. Já deixo aqui um tópico para você ir pensando enquanto assiste a esse filme: a troco de QUÊ um professor de colegial é tão torado de músculos? Em que horário ele malha? Ele conta macros? Será que ele faz amor com o suco? Meu Deus, são tantas questões.
Colega de quarto
Já assisti esse umas cinco vezes, e não me arrependo de nenhuma. Eu amo esse filme. Primeiro, porque acho todas as personagens muito gatinhas - tinha algo de especial na água das atrizes do final dos anos 2000; segundo, porque amo o tema stalking, e isso em conjunto com a tensão homoerótica entre as protagonistas só melhora o filme. Eu não sei dizer por que esse filme tem uma nota tão ruim assim, não tenho discernimento o suficiente para tecer muitas críticas negativas além dos diálogos rasos e dos figurinos vindos diretamente da loja Terezinha Modas.
Dracula: A história nunca contada
Esse daqui é uma besteira, e eu simplesmente amo. Lembro de ter assistido no cinema com minha tia quando tinha uns 16 anos, e saí extasiada. Simplesmente pegaram o Drácula e o transformaram num herói da Marvel muito trincado, tiraram todo o apelo gótico e sensual e adicionaram uma backstory que ninguém pediu pra ver. Agora você se pergunta: por que eu amo esse filme? Porque ele é divertidíssimo. Acontecem muitas coisas, e eu gosto disso. Fora que o cara que faz o Drácula é um gato e eu amei as cenas de ação. É um filme de pai, eu diria, caso seu pai, assim como o meu, ame filmes de ação com o The Rock.
Garota da capa vermelha
Absolute trash cinema. Essa era pra ser uma versão spicy e among us do conto Chapeuzinho Vermelho, conto este que é meu favorito entre os infantis. Isso porque tenho uma questão com corruption kink e lobisomens desde criança. É meu jeitinho. Então, quando esse filme saiu, eu era uma adolescente de 14 anos com muitos hormônios, e esse filme foi fonte de muita obsessão da minha parte. Eu não sei te dizer quantas vezes assisti a esse filme, e muito menos quantas vezes ouvi a trilha sonora (que, aliás, é muito boa e me fez conhecer bandas que até hoje gosto muito, como a Fever Ray). Só sei dizer que até hoje eu poderia assistir a esse filme uma vez por semana, e jamais enjoaria dessa pataquada. Meu maior sonho é que alguém fizesse uma versão legitimamente boa dessa história. Bora trabalhar, A24, acabou a farra.
Lobos
Eu não tenho palavras pra descrever esse filme. Os clichês de fanfic de terror deliciosamente mal utilizados. A cara de leite com pera do loirinho protagonista, andando por aí com sua moto e jaqueta de couro, como se alguém fosse acreditar que ele é um bad boy. As maquiagens circenses, dignas da noite do terror no Hopi Hari. E o Jason Momoa? O que ele está fazendo lá? Será que ele precisava de um plano de saúde? Um cupom das lojas Marabrás para mobiliar a cozinha dele? Um caminhão de produtos Zaeli? Eram tempos difíceis. Eu amo assistir a esse filme, nunca vou enjoar dele. Sempre que alguém me diz “quero assistir um filme besta”, meus olhos brilham, e eu prontamente penso neste. Como pode alguém ter gastado dinheiro para produzir um filme desses, me pergunto. E que existam mais filmes terríveis e divertidos como esse!
Obsessão da semana
Eu não sei se, assim como eu, você vive no seu próprio mundo. Na sua bolha. Se as poucas informações do mundo exterior chegam até você por intermédio de terceiros, que te interrogam: "Mas como você não viu isso? Você vive debaixo de uma pedra?". A resposta é sempre: sim, eu vivo debaixo de uma pedra. Se o Matando Matheus a Grito, Ismael ou Beta Boechat não falaram sobre isso, então não, eu não vi. Enfim, caso você seja como eu, sei que em algum momento você deve ter visto todo mundo ao seu redor falando sobre o caso do Diddy. Eu nem sabia quem era o Diddy, pra ser honesta. Eu também não fazia ideia de que o Jay Z (o Jaizinho) já foi empresário da Rihanna, e muito menos que o Diddy tinha uma influência tão imensa no mundo da música ocidental.
Uns dias atrás, minhas amigas falaram sobre esse caso, que eu havia visto só de relance no TikTok, coberto de teorias da conspiração. Eu já gostei muito de teorias da conspiração, mas hoje tenho bastante ranço. Passo por esse tipo de conteúdo sem nem olhar no olho. Mas, depois de ver que esse era um caso criminal, comecei a ficar um pouco obcecada em dissecar os fatos e os acontecimentos anteriores que o levaram a ser preso. Cheguei perto de algumas teorias da conspiração, todas bem bizarras. Por exemplo, a teoria de que celebridades (que supostamente morreram a mando dele ou de pessoas envolvidas com ele) faleceram todas no dia 25 de algum mês. Achei essa teoria engraçada, porque, tipo, por que alguém mataria a galera no dia 25? É o dia que fecha a folha de pagamento dos matadores de aluguel? É um dia simbólico de algum deus ancião de uma religião antiga que os bilionários são devotos? É o número favorito dele, tipo a parada da Taylor com o número 13? Enfim, muitas questões. É um caso interessante, e estarei atenta ao desenrolar.
Qual é sua obsessão atual?
Leitura da vez
Terminei Escute as Feras e, meu Deus, que livro. Nada como uma narrativa de qualidade para me fazer apaixonar pela literatura de novo. Como já mencionei no primeiro texto, fiquei quase um mês presa em casa, um período difícil lidando comigo mesma e com minhas questões. Em vários momentos, me perguntei o que deveria fazer comigo mesma. Curiosamente, o livro se conectou comigo de uma forma inesperada. Ele estava há meses no meu Kindle, sem receber a atenção que merecia. Então, nesse último mês, o título me chamou a atenção, e, por pura intuição, decidi lê-lo.
Durante a leitura, refleti sobre o que fazer comigo mesma e percebi que a resposta talvez estivesse em me permitir sangrar, morrer e renascer. Deixar morrer o que precisa morrer é algo que sempre levei a sério, mas, no meio da confusão interna em que me encontrava, acabei me esquecendo disso. O livro me trouxe essa lembrança: comer e digerir o que nos é dado. Lidar consigo mesmo nunca é fácil, e se torna ainda mais difícil se nos recusarmos a acolher nossas próprias sombras.
"O acontecimento deve ser transformado para se tornar aceitável, deve ser comido e depois digerido para fazer sentido. Por quê? Porque isso é terrível demais de se imaginar, porque isso sai dos moldes do entendimento, de todos os moldes, mesmo dos caçadores evens no coração de uma floresta em Kamchátka." (Páginas 77 e 78)
Bom, agora sim, estou lendo Frio o Bastante para Nevar, de Jessica Au.
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É isso, um beijo da Anitta!
Meu Deus ameiii essa newsletter genial, é algo como humor ácido com glitter, calcinha com uma estampa ou frase engraçada atrás (dcp pela comparação mais acho demais isso) 🤯 estava buscando por algo que abordasse justamente isso: se é possível garotas esquisitinhas serem amadas. Amei como mesmo com uma abordagem mais séria, teve um tom super sútil e divertido e todos os filmes e referencias no final mudando completamente (ou quase) o assunto, divou mana já me inscrevi
toda news eu falo a msm coisa mas eu amo sua mente s2