#8 Tudo o que eu quero fazer Ă© ilegal
NĂŁo quero passar minha vida dentro do transporte pĂșblico de SĂŁo Paulo.
Quero viver mil vidas dentro de uma vida sĂł
Recentemente, decidi assistir "Presença de Anita". Embora seja uma minissĂ©rie extremamente problemĂĄtica (como a Globo deixou isso ir ao ar?), fiquei fascinada pela protagonista. NĂŁo Ă toa, devorei os 16 episĂłdios como se minha vida dependesse disso, assistindo atĂ© enquanto fazia a manutenção das minhas unhas de gel. Fiz todo mundo em casa assistir comigo, e todos se juntavam na sala para ver aquela sĂ©rie, que parecia mais uma fofoca gigante, arrancando suspiros da minha famĂlia a cada capĂtulo. Toda vez que a Mel Lisboa (diva!) aparecia na tela, eu pensava: âEssa aĂ sabe viver.â
Ela pega o marido de uma mulher casada, seduz o Coitado da Silva da padaria, anda de calcinha na varanda, faz amizade com a filha do amante dela, aluga a casa onde ocorreu um crime passional, alegando que o fantasma da mulher ainda residia lĂĄ, numa boneca, e que sĂł ela podia se comunicar com ele. Tudo isso, enquanto fumava um cigarro da forma mais Lana Del Rey core possĂvel. Ela Ă© assim, a doida do centro, mas de um jeito bonito.
A Anita Ă© louca. ProblemĂĄtica. Sem escrĂșpulos e sem vergonha na cara. Mas dentro da insensatez dela, existe algo que eu mais invejo: a liberdade. Talvez estar no controle da sua prĂłpria loucura e autodestruição seja a verdadeira liberdade. Ela jĂĄ Ă© conhecida como louca, entĂŁo PRA QUEM ela precisa performar sanidade?
Eu assistia a cada movimento da Anita como se ela fosse um acidente de trùnsito. Vulgar, fascinante de uma forma mórbida, com uma mente tão sórdida que não me restou nada além de ficar pensando em como ela podia ser tão ela mesma, descolada da realidade e das regras sociais, a ponto de viver tão PLENAMENTE.
Eu nĂŁo estou insinuando que gostaria de ser como a Anita, mas o que me pegou foi: eu sinto o tempo inteiro como se estivesse desperdiçando minha vida nĂŁo externalizando e me divertindo com a minha prĂłpria loucura. Eu passo 4 horas no trĂąnsito para ir trabalhar, entupo meus pulmĂ”es asmĂĄticos com a poluição de SĂŁo Paulo, nĂŁo tenho a oportunidade de ter contato constante com a natureza, sinto que 24 horas nĂŁo sĂŁo suficientes para ler meus livros, ver meus filmes, passear sem rumo por aĂ. E, ao invĂ©s de fazer o que realmente quero, tenho que seguir minha rotina para ser uma âadulta funcionalâ. Mas a troco de quĂȘ? Para quem eu preciso ser funcional? Por que nĂŁo posso apenas ser uma maluca que faz o que me mantĂ©m interessada pela vida? GENTE! EstĂĄ nascendo flor na AntĂĄrtica! Para quem eu preciso performar sanidade? O mundo estĂĄ acabando! Eu nĂŁo quero desperdiçar meus anos de colĂĄgeno e bunda dura sendo piĂŁo!
Gostaria de viver mil vidas dentro de uma sĂł. Quero trabalhar com marketing, mas tambĂ©m quero viver de artesanato, quero ter nascido e sido criada no litoral, quero ser dona de um salĂŁo de beleza, quero fazer curso de direito, quero aprender a forjar joias, quero viajar pelo mundo sozinha e fazer trabalho voluntĂĄrio em diversos paĂses, quero gastar todo o meu dinheiro com experiĂȘncias e objetos bonitos, quero me mudar para a TailĂąndia e nunca mais voltar, quero ser estilista e outras mil possibilidades.
QUERO DESPIROCAR.
Talvez seja eu, talvez seja o clima opressivo de SĂŁo Paulo, talvez faça parte da experiĂȘncia humana estar sempre insatisfeita. Talvez eu viva sempre escorada no meu medo de sair da mediocridade e morra com essa fome de viver que nunca serĂĄ suprida.
Em fim, sĂł boas energias.
Dicas para romantizar a vida sendo pobre
Como infelizmente não somos herdeiras que podem alugar uma casa charmosa em um vilarejo só porque achamos crime passional algo sexy, gostaria de deixar aqui algumas dicas e coisas que pretendo aplicar mais na minha vida para sentir que estou vivendo um pouquinho mais como uma protagonista de minissérie da Globo, e não como uma barata CLT espremida em um metrÎ com cheiro de bafo de cerveja.
Ler no transporte pĂșblico: Para se sentir um pouquinho mais pretensiosa e superior a quem fica o tempo todo vendo os stories da VirgĂnia Fonseca divulgando o urubu do pix.
Fazer playlists: Crie uma trilha sonora para momentos especĂficos da sua vida, igual quando toca "Vogue" em "O Diabo Veste Prada".
Comer o que vocĂȘ tem vontade: Se liga, vocĂȘ nĂŁo vai falir sĂł porque compra um cafĂ© superfaturado sabor caramelo salgado toda sexta-feira.
Se arrumar todos os dias: JĂĄ viu alguma Dona Helena do Manuel Carlos toda escabelada, mesmo quando estĂĄ na casa dela?
Dar um tempo da internet: Vai ver gente, passar a mĂŁo em um gato que vocĂȘ achar na rua, se inscrever num curso presencial de crochĂȘ, visitar as exposiçÔes da sua cidade.
Ter seus momentos de personagem principal: Sei lĂĄ, vai acender uma vela, fazer um banho premium, andar de bike por aĂ, usar uma mĂĄscara facial coreana, escrever um conto, VAI VIVER!
Incorporar esses pequenos prazeres e momentos de romantização na nossa rotina pode nos ajudar a sentir um pouco da liberdade e autenticidade que invejamos em personagens como a Anita, sem precisar despirocar (embora essa possibilidade também seja uma boa pedida). Afinal, viver intensamente não significa necessariamente se entregar ao caos, mas encontrar maneiras de fazer com que cada dia seja um pouco menos maçante.
Tudo é sobre estética gótica, culpa católica e diålogos dramåticos

Terminei de ver "Entrevista com o Vampiro". O resultado? Uma mente atribulada. Um corpo que clama pelas vidas que sĂł podem ser vividas se vocĂȘ for imortal e tiver grandes e pontudas unhas de acrigel. Uma alma que chora e pede pela terceira temporada, com a esperança quase infantil de que nosso Daniel Molloy vai tascar um beijasso no Armand.
Enquanto não temos a terceira temporada, o que me resta é orar por uma lobotomia, pois eu jå imaginava que assim que eu visse essa série, eu ia fazer dela a minha nova personalidade.
Leitura da vez ౚâĄïžà§
Admito que estou em ressaca literåria. "Menina Submersa" acabou comigo; sinto meu cérebro liso igual peito de frango. Tentei continuar a ler "Bunny", mas, puts, que livro besta. Odiei todos os personagens e achei o grande plot twist uma bobeira. Larguei lå pelos 60% de leitura, ficou com Deus!
DaĂ, fui pro shopping com a minha amiga e fiquei embasbacada com as âpoesiasâ da Amanda Lovelace. Eram tĂŁo ruins, mas tĂŁo ruins, que eu fiquei fascinada e me obriguei a ler o primeiro da trilogia - sĂł pra ter certeza de que eu estava certa - o âA princesa salva a si mesma nesse livroâ (nota 4,6 na Amazon! Fim dos tempos mesmo, bem que o povo da igreja fala). Quando terminei, me perguntei por que fiz isso comigo mesma. Novamente, foi a mesma sensação de assistir a um acidente de trĂąnsito.
Sei lå, besta sou eu. Ela tå lå, rica, e logo lança mais dois livros (bombas) até o final de 2024.
No momento, estou lendo âA metamorfoseâ. Estou no começo ainda, mas meio que entendo como Ă© acordar de manhĂŁ e se sentir uma barata.
EdiçÔes anteriores ౚâĄïžà§
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Um beijo!
Nossa, minha nossa. Nossa.
Amor, lĂȘ A Vida InvisĂvel de Addie Larue. Apenas.
vamos viver la vida loca porque o mundo estĂĄ acabando!!!! quem vai lembrar que eu uso lacinhos, stickers infantis, dou pulinhos de alegria e nervosimso??? e se lembrar, que ĂTIMO, estou sendo lembrada, fui relevante!!!