#12 Tudo o que eu quero fazer Ă© ilegal
Crescer com Saci PererĂȘ na TV me preparou para HereditĂĄrio â e me expondo mais do que deveria.
Ăs vezes, assistir HereditĂĄrio Ă© terapia
Se, ao contrĂĄrio de mim, vocĂȘ nĂŁo foi uma criança emocionalmente negligenciada, que passava a maior parte do tempo sozinha assistindo TV aberta - a Ana Hickmann Ă© praticamente minha mĂŁe adotiva - provavelmente vocĂȘ nĂŁo sabia que o Geraldo LuĂs, do Balanço Geral, dedicava inĂșmeras reportagens ao Saci PererĂȘ, ao Castelinho do Flamengo, a fantasmas em azulejos e visitas a hospitais mal-assombrados. Basicamente, era um mergulho sem volta em terror trash. Mas pra que cacete eu ia querer saber disso? VocĂȘ se pergunta. Porque eu quero falar sobre como consumir terror Ă© meu coping mechanism, uĂ©. Ou vocĂȘ acha que eu ia falar de assunto de gente normal.
Quando eu era criança, meus pais, catĂłlicos, me proibiam de assistir filmes de terror. Mas nunca, jamais, me proibiram de ver o Balanço Geral, a MĂĄrcia Sensitiva no Mulheres, Lendas Urbanas do Gugu, Catalendas, o programa da SĂŽnia AbrĂŁo ou, claro, de navegar livremente pela internet, onde eu me tornava uma verdadeira ratazana, explorando creepy pastas e vĂdeos de fantasmas que, obviamente, sĂŁo 100% reais. Porque alguĂ©m mentiria na internet? Eu jamais mentiria pra vocĂȘs, por exemplo.
Todo esse acesso prematuro Ă cabulosidades se resultou resultou na pessoa absolutamente equilibrada que sou hoje. Atualmente, sigo um monte de pĂĄginas de divulgação de filmes de terror, assisto a quase todos os lançamentos e ainda sou viciada em vĂdeos sobre casos sobrenaturais - a Ana do canal Assombrado jĂĄ Ă© praticamente uma das vozes da minha cabeça. AlĂ©m disso, adoro ouvir histĂłrias assombradas de amigos, desconhecidos, ou qualquer alma caridosa que queira compartilhar suas experiĂȘncias com o alĂ©m. Eu nĂŁo seria ninguĂ©m se nĂŁo tivesse lido aquela edição da Revista Recreio sobre lendas urbanas aos 8 anos de idade.
Um dia desses, comentei com meus colegas de trabalho que preciso ver coisas extremamente assustadoras para "rebobinar" meu cĂ©rebro. Assisto como quem se recosta em um spa mental, totalmente relaxada, como se ver o Nicolas Cage em Longlegs, customizado de Juju do Pix, falando sobre SatanĂĄs fosse o equivalente a uma meditação. Super apropriado para conversas de escritĂłrio. Mas, a verdade Ă©: comecei a me perguntar por que funciono assim. E aĂ, minha busca por respostas começou.
Segundo o querido Haiyang Yang, nosso gosto por terror Ă© explicado por trĂȘs fatores principais: a estimulação mental e fĂsica, a busca por novas experiĂȘncias e a curiosidade sobre o lado sombrio da psique humana. E, veja bem, tudo isso supre perfeitamente as necessidades de uma criança solitĂĄria e estranha. Eu nunca fui muito fĂŁ de fantasia. Quando era mais nova, li Harry Potter, Percy Jackson e CrĂŽnicas de NĂĄrnia porque, honestamente, nĂŁo havia muito mais opçÔes melhores para crianças. Mas, hoje em dia, se vocĂȘ me obrigar a ler O Senhor dos AnĂ©is, eu cuspo na sua cara. E, se vocĂȘ parar para pensar, o gĂȘnero terror Ă uma forma de explorar a fantasia. SĂł que de um jeito muito mais divertido, onde vocĂȘ pode teorizar sobre o sobrenatural enquanto sente fortes emoçÔes.
Mas eu, particularmente, acho incrivelmente divertido sentir medo ou tensĂŁo enquanto consumo algo do gĂȘnero. Passei a maior parte da minha infĂąncia sozinha na sala, entĂŁo ficar apavorada enquanto via o Balanço Geral investigando um piso que vazava sangue era o ĂĄpice de estĂmulo emocional que eu tinha. Ah, e eu tinha uma mĂŁe â o que pode nĂŁo te aterrorizar, mas a minha experiĂȘncia foi outra. Assim, consumir terror era (e ainda Ă©) minha maneira de explorar o medo em um ambiente controlado e previsĂvel, onde o Ășnico perigo real Ă© dormir pensando em uma mĂŁe assustadora que nĂŁo seja a minha, e sim a de HereditĂĄrio.
Outro ponto Ă©: eu sou completamente obcecada por pessoas, provavelmente porque fui privada de contato social muito nova, e ainda me sinto uma alienĂgena apendendo o comportamento humano. Em um mundo onde dinheiro nĂŁo significa nada, eu provavelmente sou antropĂłloga. O comportamento humano Ă© fascinante, e o terror, a cada dĂ©cada, reflete o que a sociedade teme naquele momento. Nos anos 30, era o medo da ciĂȘncia com Frankenstein (1931); nos anos 50, o pavor da aniquilação nuclear nos trouxe Godzilla (1954); e mais recentemente, temos filmes como Corra! (2017) e A Pele Que Habito (2011), refletindo crises existenciais e medo da tecnologia. Se isso nĂŁo Ă© fascinante pra vocĂȘ, saia imediatamente da minha frente.
Enfim, acho que existe muita autodescoberta no processo de entender o fascĂnio pelo grotesco. JĂĄ se perguntou por que gosta ou nĂŁo de terror? NĂŁo julgo quem nĂŁo gosta, mas hĂĄ um estigma em torno de quem gosta, como se fĂŽssemos uma ameaça em potencial. Embora, admito, eu seja uma ameaça em potencial, nĂŁo acho justo que todos os fĂŁs do gĂȘnero sejam vistos assim!
IndicaçÔes de filmes de terror tailandeses
Se vocĂȘ ainda nĂŁo sabe, a TailĂąndia realmente bota o pau na mesa quando o assunto Ă© terror. Eles fazem o que Ă© meu sonho ver o Brasil fazer: misturar temas sociais com suas prĂłprias tradiçÔes espirituais. NĂŁo tĂȘm medo de explorar o grotesco, entrelaçando terror com dilemas Ă©ticos e morais como desigualdade, violĂȘncia e marginalização. Fora a CRIATIVIDADE que eles usam na hora de amarrar a trama, que muitas vezes, Ă© explorada com sutileza. E eu simplesmente amo quando um filme de terror tem muitas camadas pra vocĂȘ ficar teorizando. Odeio quando assumem que o pĂșblico Ă© burro e mastigam tudo. EntĂŁo, segue algumas sugestĂ”es:
#5 Quando a morte sussurra
Bom, esse filme nĂŁo tem lĂĄ uma nota muito boa, isso porque eu acho que as pessoas sĂŁo incapazes de sentir prazer assistindo um bom filme de folk horror. Eu assisti com uma amiga e nĂłs duas quase nos cagamos. Algo que me fez rir foi a Ăłbvia escolha do irmĂŁo mais gostoso para lutar contra o demĂŽnio. Coisa que eu jamais reclamaria.
#4 Inquilinos Macabros
Esse Ă© pra quem gosta de seitas, plot twists e possessĂŁo. TrĂȘs valores muito importantes que eu levo pra vida. NĂŁo Ă© super assustador, mas Ă© intrigante o suficiente pra te manter atĂ© o fim, sĂł pra descobrir o que raios estĂĄ acontecendo.
#3 Alone
Esse Ă© pra quem assistiu Pearl e pensou "literalmente eu!". Talvez seja algo a discutir na terapia. Cheio de suspenses e reviravoltas, e mais um do gĂȘnero "good for her1".
#2 A MĂ©dium
Aqui, a gente tĂĄ falando de ARTE. Assisti trĂȘs vezes e fiquei igualmente perturbada em todas. Ă um dos meus favoritos da vida. Amo quando um filme usa sĂł efeitos prĂĄticos e a magia da atuação. Se vocĂȘ Ă© muito sensĂvel, fuja. Um dos meus irmĂŁos dormiu um mĂȘs na sala por causa desse filme.
#1 Shutter
Esse Ă© clĂĄssico. Se na sua infĂąncia ninguĂ©m te falou de EspĂritos (o nome brasileiro), vocĂȘ viveu errado. A tensĂŁo Ă© construĂda de forma sutil, e Ă© um dos poucos filmes que realmente me assustou com a assombração. Cinco estrelas, e nĂŁo aceito discussĂ”es.
Leitura da vez
Menina, acredita que consegui terminar um livro? Mas calma, Ă© um livro horrĂvel, moralmente duvidoso e cheio de crinjolices. Mas como sei separar ficção da realidade, nĂŁo me importei. Minha rĂ©gua moral jĂĄ Ă© meio torta, pra ser sincera. O livro se chama Seu inferno particular, escrito por uma autora brasileira, mas ambientado nos EUA, como toda obra vira-latista pra hitar no Kindle Unlimited. NĂŁo tenho nada contra a autora, atĂ© leria outras coisas dela, mas fiz o favor de nĂŁo ser muito honesta nas avaliaçÔes da Amazon. Cada um faz seu malote como pode, nĂ©?
Outra coisa que eu TENTEI ler esses dias foi outro livro chamado Seduzida pelo Ăncubo, jĂĄ me expondo mais do que devo, sim, eu gosto de monster romance. VocĂȘ vai fazer o que? Me denunciar? Jogar tomates em mim? Aposto que em algum momento da sua vida vocĂȘ se apaixonou por um vampiro, lobisomem, o Fera (do X-Men ou A Bela e a Fera), Jennifer Check de Garota Infernal, a mĂŁe de Evil Dead Rise, Venom, Hellboy, Predador, ou atĂ© aquele bicho de A Forma da Ăgua. VocĂȘ nĂŁo Ă© inocente. Eu posso ler seus pensamentos. Eu enxergo a sua alma.
Bom, apesar de ser sim meio monsterfucker, eu ODIEI esse livro. Ă tĂŁo mal escrito que fiquei me perguntando como alguĂ©m teve a coragem de publicar. NĂŁo consegui passar de 50%. Uma pena, porque adoro Ăncubos e sĂșcubos. Cada um com sua pira, nĂ©? NĂŁo me crucifique. Fique na sua, que eu fico na minha.
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Ă isso, um beijo da Anitta!
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âgood for herâ Ă© o tipo de coisa que vocĂȘ vĂȘ e fica feliz por uma mulher estar sendo vingada, nĂŁo importa o quĂŁo questionĂĄveis tenham sido as atitudes dela.
vanessinha, i'd love to listen to the creepy stories that you bc i'm cagona demais para assistir filmes de terror sozinha. PORĂM amo ouvir pessoas contando histĂłrias de terror no youtube đ«Šđ„°, entĂŁo faça um podcast ou escreva sobre. bjs
amiga nunca faça terapia!!!